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Sobre a "patologização" da vida

  • Writer: Mateus Gaiotto
    Mateus Gaiotto
  • Apr 5, 2024
  • 3 min read

Primeiramente o que é patologizar/patologia? 

 

"Patologizar" é um verbo transitivo que envolve considerar algo como patológico ou classificar comportamentos e fenômenos como doentios. 

(Fonte: Infopedia) 


A palavra "patologizante" tem origem no termo "patologizar", que vem do grego "pathos" (sofrimento, doença) e "logos" (estudo, tratado). 

(Fonte: Ibrath) 


Patologias são alterações fisiológicas e morfológicas que, quando não compensadas, indicam que a pessoa está doente. Portanto, patologizar significa associar sintomas, hábitos e ocorrências fora do normal à doença, geralmente realizado por profissionais de saúde. 

(Fonte: Eurekka) 

 

É comum vermos pelas redes sociais profissionais da área da saúde "explicando/apresentando/falando" sobre transtornos mentais, suas causa, sintomas, diagnósticos etc. 


Do mesmo modo, também vemos aqueles que combatem esse tipo de postagem e mostram para nós como esse tipo de conteúdo é problemático. 

 

De um lado, conhecer aquilo que nos aflige nos torna mais preparados para enfrentar esse desafio. Dar nome ao que sentimos muitas vezes nos ajuda a validar o nosso sofrimento parente a nós e a uma sociedade que ainda tem muito preconceito com o adoecimento mental!

 

Mas como, por meio de um vídeo de 1min, vou saber se minha tristeza é uma depressão? Meu nervosismo é um transtorno de ansiedade? Meu esquecimento e falta de atenção é TDAH? 

 

Não vai!  

 

O intuito desses conteúdos, muitas vezes (mas nem sempre!), é informar aqueles que não são profissionais da área para que prestem atenção a si mesmos e ao seu sofrimento, e que busquem ajuda quando perceberem que algo está fora do normal. 

 

Há algumas semanas virou problema um Reels de Instagram onde estudantes acendiam cigarros com o fogo de um DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) sendo queimado.  

 

O que isso significa? Que ele não serve para nada? Que todo estudo em torno dos transtornos mentais é manipulado pela bilionária indústria farmacêutica? Que não devemos confiar na ciência?(talvez..) Mas não! 

 

Ao meu ver a crítica é como esse manual e a lógica por trás da sua construção acaba por abarcar todas as esferas da vida humana e seus altos e baixos como sintomas, como doenças. 

 

Talvez alguns de vocês já devam ter ouvido falar que ninguém que lê o DSM-5 consegue passar por ele sem se auto diagnosticar com pelo menos 5 transtornos mentais diferentes(!) e isso reforça a crítica de que a busca por entender o humano e suas "desordens" (palavra usada pelo Manual) chegou a um nível em que tudo é um indício de transtorno, é patológico e, consequentemente, todos estaríamos doentes. Viver se torna um sintoma e isso é patologizar a vida.


Talvez estejamos mesmo doentes, visto a lógica do sistema em que estamos inseridos, mas não podemos nos deter nisso. Não devemos nos deter aos diagnósticos que, mesmo sendo muitos, não abarcam todas as formas de sofrimento humano em todos os lugares do mundo, e acabam por se tornar uma justificativa da nossa inatividade perante àquilo que nos aflige sistematicamente! 

 

Para finalizar cito Slavoj Žižek em um de seus debates e reforço a ideia de que para conseguirmos melhorar devemos agir, não individualmente, mas coletivamente! O adoecimento psíquico é em sua maioria encarado como algo individual, mas não é! 

 

“Devemos carregar nosso fardo, aceitar o sofrimento que o acompanha, mas o perigo espreita aqui, de uma reversão sutil: não se apaixone pelo seu sofrimento.  

Nunca presuma que seu sofrimento é em si mesmo uma prova de sua autenticidade. A renúncia ao prazer pode facilmente se transformar em prazer pela própria renúncia”.

 
 
 

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