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Sintoma e sociedade

  • Writer: Mateus Gaiotto
    Mateus Gaiotto
  • Mar 4, 2024
  • 2 min read

Atualmente, no grupo de leitura que coordeno, estamos discutindo o livro "Sociedade do cansaço" de Byung-Chul Han. 

 

O autor apresenta a perspectiva de que cada época carrega suas próprias aflições fundamentais. Para nós, parece ser a depressão, ansiedade, burnout, entre outras. 

 

A psicanálise oferece uma visão intrigante sobre essas questões. Ela sugere que os sintomas que experimentamos, sejam eles físicos ou mentais, não são apenas manifestações superficiais, mas sim expressões do inconsciente tentando lidar com algo que percebe como ameaçador em um nível mais profundo. 

 

Dentro dessa lógica, os sintomas surgem como uma forma "menos pior" de lidar com algo que poderia nos causar ainda mais dor ou sofrimento, de acordo com nosso próprio juízo. Uma dor física substitui uma dor emocional, um comportamento obsessivo mascara uma angústia subjacente, a ansiedade surge como um mecanismo de defesa mesmo quando não há perigo aparente. 

 

Entretanto, segundo Han, há uma ameaça constante que enfrentamos:  

 

A violência inerente ao sistema em que vivemos.  

 

Quando não temos uma "ameaça externa", torna-se mais evidente os "inimigos" internos que carregamos, moldados por uma lógica social imposta sobre nós.  

 

"A sociedade do desempenho", como Han a descreve, gera indivíduos depressivos e que se sentem fracassados - Essa sensação de fracasso pode ser tão poderosa a ponto de inibir a produção de um texto, como aconteceu cominho na semana passada, mas vai muito além disso! Muitos dos sintomas que enfrentamos, embora pareçam individuais, são na verdade produtos da pressão social e das expectativas que nos são impostas. 

 

Quanto ao que diz respeito aos analista, é importante reconhecer que não existe uma psicanálise da sociedade, no sentido de colocar a sociedade como um paciente em análise deitada num divã. No entanto, podemos ajudar indivíduos e grupos a lidar de maneira mais saudável com as demandas sociais e os sintomas que delas surgem. É crucial compreendermos que, como terapeutas, não temos o poder de mudar o sistema social em si, mas, como cidadãos, podemos sim incentivar práticas públicas que melhorem um pouco essa lógica adoecedora! 

 

É notável como a sociedade contemporânea, como apontado por Han, abandonou a busca por uma vida melhor em prol da mera sobrevivência. Estamos presos em uma mentalidade que valoriza o desempenho acima de tudo, muitas vezes à custa de nossa saúde mental e bem-estar. 

 

O autor argumenta que a positividade do poder é mais eficiente do que a negatividade do dever, o que leva os indivíduos a serem mais produtivos, porém também mais propensos a experienciar "infartos" emocionais. Esse fenômeno contribui para o aumento alarmante de casos de depressão, ansiedade, burnout, e outros distúrbios mentais. 

 

Em última análise, não se trata de afirmar que o passado era necessariamente melhor, mas sim de reconhecer que o progresso temporal nem sempre se traduz em avanços sociais ou uma vida com menos sofrimento.  

 

É um convite à reflexão sobre os caminhos que escolhemos como sociedade e as consequências que essas escolhas têm sobre nossa saúde mental e emocional. 

 

 
 
 

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