O mito da individualidade
- Mateus Gaiotto
- Jan 15, 2024
- 2 min read
“Humanos raramente pensam por si mesmos. E sim, pensamos em grupos. Assim como é preciso uma tribo para criar uma criança, é preciso uma tribo para inventar uma ferramenta, resolver um conflito ou curar uma doença”. (Yuval N. Harari)
Escrevo esse texto a partir da leitura do capítulo 15 (Ignorância) do livro “21 lições para o século 21” de Yuval N. Harari.
Apesar de não me aprofundar em todas as questões que o autor trás no capítulo - em nenhuma delas, para ser mais exato -, suas provocações me fizeram pensar a respeito do meio em que estou inserido que é o da psicanálise e a saúde mental.
Ao falar que precisamos de uma tribo (leia-se: comunidade, relação entre pessoas, muitos saberes) para inventarmos, para sobrevivermos e para cuidarmos de alguém, penso que devemos cada vez mais insistir nessa questão, inclusive para aqueles que acreditam que já sabem disso.
Temos que assumir nossa ignorância.
Muitas vezes nos pegamos pensando que a pessoal que faz terapia já está no caminho certo, e que é esse o único meio de resolver suas questões e ter uma vida melhor.
Doenças e sofrimento psíquico não são como vírus.
Ok, assim como acontece com os vírus, nós não possuímos remédios 100% eficazes para o tratamento de tais questões.
Apesar de seguirmos estudando possibilidades, dependemos grandemente da força do sistema imunológico da pessoa infectada para que lute e elimine a ameaça.
É uma tarefa importante e bastante solitária essa e que não funciona para o tratamento das patologias e transtornos mentais.
A terapia serve como o remédio que ataca os sintomas da doença, mas o analista sozinho não dá conta! Junto de outras pessoas, ele pode também funcionar como aquela canja que é preparada com tanto carinho por nossas avós, que nos mostra que temos apoio, não estamos nessa luta sozinhos e ajuda a fortalecer nosso "sistema imunológico" para combater os "vírus" que possam nos infectar.
Mas o sistema imunológico da mente não é composto por glóbulos brancos, anticorpos, órgãos linfoides etc., e sim de pessoas.
A ação pública e suas políticas servem para prevenir “infecções” como a fome, a vulnerabilidade, o preconceito, a violência, a desigualdade etc.
Nossas famílias, amigos, redes de apoio, servem para atacarmos juntos essas infecções quando elas, inevitavelmente, nos acometerem.
Assim, devemos continuar acreditando no trabalho dos profissionais da saúde, nas terapias, como ação especializada e preparada para nos ajudar a tratarmos nossas questões, porém, devemos entender que sozinhos não chegaremos tão longe quanto conseguiríamos se ao nosso lado tivermos apoio de uma tribo.
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